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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Não bati as cinzas ainda...

Êle disse:
Estou com soluços.
Perdi minha camisa.
A escada não está mais me deixando subir.
Meu patrimônio é você, minha cidade maravilhosa.
Perdi o ônibus, perdi um sonho, perdi um sorriso
e também perdi um amigo.
Minhas perdas se multiplicam e
se acumulam sobre meus ombros.
Tenho muita sede e meus olhos já não enxergam
o azul no horizonte.
Havia um lago grande.
Haviam destinos nesse lago em forma de peixes.
Alguém jogou uma rede.
Estou no fundo desse lago que se tranformou em um poço.
Estou no fundo do poço e não consigo
encontrar o meu destino.
Minhas pernas doem.
Meus olhos estão vermelhos.
Existe choro em meu sorriso.
Cadê você?
Nos dois lados existe o silêncio e a solidão.
Não importa com quem estamos
e sim em quem pensamos.
Um único jeito de ser um sorriso sem sonhos
é ser um sonho sem quaisquer sorrisos.
Minha geladeira está vazia.

Acendi mais um cigarro.
Estou queimando minhas esperanças,
minhas alegrias, minha vontade de você.
Mas não bati as cinzas ainda...
Quero acordar das cinzas.
Quero você!
Ela respondeu:
Enquanto não encontras tua camisa, vista a minha...
Enquanto não há água no teu cantil,

venha matar tua sede no meu...
Enquanto teus olhos não conseguem enxergar o horizonte,

usa o meu olhar.
Ele não entende muito do azul do céu, mas com ele verás o azul do mar...
Não tenho um lago para te ofertar, mas tenho meus braços para te embalar...
Enquanto não encontras o teu destino,

venha repousar no meu (que é teu)
Não precisas te importar, apenas fica comigo,

que prometo fazer silêncio para que possas em outra pensar...
Minha geladeira está farta ...

Apenas traga o teu cinzeiro, pois quando tiveres que bater as cinzas,
por perto, talvez, eu não consiga estar.