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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

DELÍRIOS III

Êle disse:
Nesta casa tem goteiras...
Em meu quarto eu tenho só a escuridão.
Tenho só as sombras produzidas
sem nenhuma luz...
Cada pingo me castiga a face,
me obriga a virar o rosto.
Deitado, não consigo mais olhar o teto,
não consigo dormir.
O telhado é novo.
O silêncio é sempre o mesmo:
O silêncio da tortura!
O armário é em madeira nobre
e cabem todas as minhas angústias.
E lá fora está a minha musa.

Sitiada pelo medo da tempestade.
Sitiada pelo ciúme.
Sitiada pelos raios de lucidez entre as nuvens
de frustações...
Eu amo minha musa!
É nela que descanso minha alegria,
meus desejos, meu tesão e minhas mãos lascivas...
A lareira apagou.
Tem goteiras nessa casa... 
Ela respondeu: 
Minha casa não tem goteiras, mas minha porta, destravada está. 
O vento é tão forte e não pede licença pra entrar.
Minha casa não tem goteiras, mas estou sim,
com medo da tempestade.
Afasto os raios da lucidez, não os quero,
prefiro a sombra dos meus sonhos, pois neles tu aqui estás.
Anda, te apressa, minha porta continua aberta ...
O que fazes ainda numa casa com goteiras?
Será que não desejas descansar tua alegria?
Ou tens medo de não mais querer voltar? ...